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quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

Impressões Inacabadas acerca da obra “Belchior – a História que a Biografia não VAI CONTAR” de Jorge Claudio de Almeida Cabral.

"Impressões Inacabadas acerca da obra “Belchior – a História que a Biografia não VAI CONTAR” de Jorge Claudio de Almeida Cabral


            Confesso que quando me interessei em ler a referida história, vivida e compartilhada por duas pessoas, que protagonizaram esta dita “memória” registrada não apenas na parede da memória por um dos personagens centrais do novo contexto vivido através das velhas histórias vividas e narradas por Belchior e revividas a partir do momento em que as dividia, bem como as novas histórias construídas, hoje, passado, meu foco foi conhecer de perto o que uma pessoa que conviveu com Belchior tinha a dizer sobre o Belchior artista, o Belchior filósofo, o Belchior compositor, o Belchior poeta e, naturalmente, o Belchior amigo, como o próprio autor Jorge Cabral o chama em determinados pontos com riqueza de detalhes tanto nos aspectos simplórios quanto subjetivos, as vezes, dando a indicação de não escancarar o bastante pontos de vista sobre aspectos da vida privada de Belchior com aquela que o acompanhava, não sei se por excesso de defensiva emotiva e resguardo próprio ou por ser também um indicativo de que só vale mais à pena ocupar-se do que é mais relevante, ou por que não dizer “mais significativas para ele”.
            Tive a impressão de que Jorge Cabral buscou através das suas narrativas, não apenas congelar na moldura do papel boa parte do que viveu com Belchior a partir das suas múltiplas observações relacionadas à postura de Belchior desde a sua natural gentileza não dissimulada até o Belchior intelectual, cultural, poliglota, filósofo, poeta, cantor-compositor e artista plástico, muito embora não tenha registrado relatos sobre seu domínio fluente de vários idiomas, em outras palavras, o autor gaúcho nos apresentou, além daquele do ser humano, cordial e admirável, o cearense ligado ao campo do conhecimento, porém, do conhecimento sem fronteiras, sem extensão de limite, visto que é observado através da leitura, que todos os seus dotes artísticos e intelectuais apresentados ou expostos durante sua vida, foi confirmado a partir da narrativa desta História, impossível de ser encontrada em qualquer biografia autorizada ou não, antes desta importante obra.
            É oportuno deixar registrado que observei, entre uma narrativa e outra, que mesmo com tanta bagagem cultural, técnica e científica, Belchior sempre carreava uma postura de discípulo, mesmo quando era o condutor de alguma discussão na qual demonstrava total domínio, sempre apontando para o horizonte de uma descoberta, e que sendo novo conhecimento ou nova descoberta, renovava sua ideia de que sempre há algo a aprender com o já aprendido, abrindo margens para a renovação de novos pontos de vistas sobre as coisas, os valores e as pessoas.
            A leitura me serviu como uma espécie de termômetro ou exame diagnóstico, pois me ajudou a compreender a figura de Belchior humano ou como se diz no popular “gente”, não do ponto de vista Franciscano, mas do ponto de vista de quem se reconhecia no outro, cujo estilo de vida simples que estava, talvez, submetido a viver, revelava o seu lado simples ou o seu real interior, igual a todas e a todos na condição de anônimas e anônimos.
            Jorge Cabral questionou em algumas passagens do livro o porquê de Belchior estar submetido a tal situação, sempre na condição de dependente, às vezes aparentando estar se escondendo. Os questionamentos do autor acerca da situação de vida de Belchior, pelo que pude constatar, sempre pairavam em relação direta com sua mulher, cuja impressão maior, para mim, foi a de que havia uma incógnita, um segredo, um mistério que jamais seria revelado, incógnita esta que levava para dois caminhos conclusivos: Ou Belchior encontrou na mulher o que lhe faltava para cumprir possíveis sentenças enunciadas em muitas das suas canções ou ele não estava bem suficientemente para romper o “laço” que talvez o prendia em um mundo, “talvez”, de alucinação, que hora combinava com a letra da canção, hora encaixava-se apenas com o título da mesma.
            É importante que eu deixe o seguinte friso: “O livro de Jorge Cabral me ajudou, como admirador do Belchior artista e todas as outras suas aptidões intelectuais e artísticas já citadas, a compreender os lados de Belchior passivo e pacifico. Ambos com denotações distintas, cujas mesmas apontavam para um caminho de submissão e outro à sua natureza humana”.
            É fato que a obra narra situações da vida de Belchior desde o começo da sua carreira como músico e situações cotidianas diversas, narradas por Belchior e reproduzidas por Cabral. Oportunamente, foi importante, a meu ver, ter percebido que entre as conversas travadas entre aqueles “dois donos da história que a biografia não vai contar”, as filosofias de vida e de crença, a carga intelectual narrada nos bate-papos desde física quântica até lições como a história do cajado, cuja importância que o mesmo lhe tinha quanto sua expressão de tristeza ao ser “convidado” a abandonar o “tal objeto”, que para ele, desde então era um “símbolo”. Este foi o desenho de Belchior cultural e carregado de emotividade, cuja sentença maior, e que talvez tenha sido injusta, foi a de transformar sua passividade em submissão, sua humanidade em omissão e seus ideais, talvez, em um erro.
            Talvez eu tenha falado pouco sobre o livro e depositado neste ensaio mais impressões do que uma análise mais detalhada. O livro causou-me, a princípio, receio, quando iniciei o primeiro capítulo, porém, logo senti a carga emotiva depositada nas figuras linguísticas utilizadas em alguns trechos, especialmente em uma passagem em que Belchior diz a Jorge Cabral: “Tinha que te conhecer”. Entre um capítulo e outro, percebi que o livro como um todo, nos convida a uma viagem do sentimento, curtas histórias narradas, sem muito suspense, mas com sinceridade e retidão através das palavras.
            Quando a ansiedade me bateu a porta para ler o livro, especialmente por admiração a Belchior e ao mesmo tempo por vontade de saber o que alguém que lhe conheceu intimamente tinha a dizer sobre ele, conclui antes mesmo de terminar a leitura: “Eu tinha que te ler”. Também não posso deixar de informar que o enredo não demonstra apenas o lado humano de Belchior mas, demonstrou, talvez sem que o autor percebesse, sua postura fraterna, suas capacidade humana, sua aptidão à empatia demonstrada em alguns momentos de desconfortos narrados em minudências, mas sempre com o coração amigo, pois como é visto de modo recorrente, o guardião de Belchior não era ou não foi apenas seu amigo, a princípio desconhecido, acolhedor sobre diversos aspectos. Jorge Cabral o colocou no seio da sua família, transformando aquela relação de fã para uma elevação de fraternidade, e quer talvez, por premonição minha, sofreu calado suas dores, mesmo que muitos enredos observados tenham resultado no silêncio que sangra o coração de quem as percebe e as sente, pois de certa forma, tais histórias também eram suas, pois histórias vividas e compartilhadas passam a pertencer aos que compartilham e aos que as dividem de forma direta ou inconsciente.
            Talvez, para Jorge Cabral, o fato de tê-lo acolhido em sua residência, fato que de certa forma possa representar para ele certa passividade e que assim, reafirmava seu autoexílio sem explicação, tenha sido um erro, porém, se o próprio Belchior lhe disse certa vez: “Nada é por acaso. Tinha que estar aqui hoje”, é por que algo transcendia a compreensão humana, a percepção psicológica ou até mesmo a simples intuição, e neste caso, sentir, era, e certamente foi mais importante do que compreender o porquê de certas coisas acontecerem.
            Foi gratificante ter lido este livro de memórias, este memorial pessoal, esta moldura sentimental pintada com a tinta das palavras, que através da verdade do sentimento vivido e das narrativas diretas com palavras levemente anavalhadas, quase que imperceptíveis, em breves passagens, ao demonstrar inquietação ou desconforto diante de quem acompanhava Belchior ou em momentos apreensivos antes da sua partida.  
            Sinto em mim a compreensão da história escrita por Cabral, de quem foi o Belchior anônimo, e que quero crer que foi o Belchior que ele sempre quis ser, e que diante dos fatos, tirei a seguinte conclusão: “Somos todos iguais”. Não falo isto por simplesmente ter compreendido alguns aspectos sobre Belchior e sua história de vida após entrar na vida de Jorge Cabral bem como da sua família. Até mesmo esta lição me deixou a evidência de que sinto mais que somos todos iguais do que mesmo compreendo isto.
            Por que não concluir concordando com Belchior quando nos diz: “Tudo muda” (?). Mas confesso que não estou pronto para afirmar que sempre há uma lição plausível para mudar, e às vezes de uma forma tão extrema como o Sr. Latino-Americano mudou.

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1Professor de História. Especialista em Ensino de História. Poeta, Cronista, Prosador, Sonetista, Escritor e Músico-compositor Pernambucano.

Fábio de Carvalho Maranhão
Biblioteca Particular/Escritório de Trabalho

                                                     Cortês-PE, quarta-feira, 10 de janeiro de 2018.





"Ano passado eu MORRI. Mas esse ano EU NÃO MORRO!"

"Ano passado eu MORRI. Mas esse ano EU NÃO MORRO!"

Em revisão.

Fábio de Carvalho Maranhão
Biblioteca Particular/Escritório de Trabalho
Domingo, 07 de janeiro de 2018