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segunda-feira, 29 de maio de 2017

Sete Anos Depois... / Fábio de Carvalho Maranhão

XXIV

Em 2010, quando compus a canção “Serinhaem Danado”, precisamente no dia 16 de junho, versei inquietações minhas acerca de uma iminente ameaça de enchente, e pude sentir no meu peito e mente uma espécie de percepção profética, que não me perturbou de antemão, porém, me fez refletir e concluir que as coisas acontecem nãoapenas porque tem que acontecer, mas porque para tudo há um ou mais propósitos. Dois dias depois, há 18 de junho, a enchente foi concretizada.
As águas vieram e passearam pelo seu lugar comum desfazendo muitas coisas que os homens modificaram, incluindo vaidades, maus costumes e soberbas.
Não acredito que sejam castigo Divino certas situações catastróficas. Deus, na sua inteira e diviníssima bondade, creio, não deseja castigar ninguém. Os homens, compreendo, castigam-se a si próprios quando cavam suas sepulturas para enterrarem seus princípios éticos e morais antes de desencarnarem. Mas o que desejo narrar aqui não são críticas acentuadas à humanidade, pois mesmo existindo aqueles que se acham perfeitos, vivem e sempre viverão aqueles que reconhecem humildemente sua pequenez e efemeridade física. O importante mesmo é saber que o que deve prevalecer é a dignidade moral e exemplo ético, mas sempre, com a visão de que, nem sempre, culturalmente falando, aquilo que é correto e justo para alguns, para outros não é justo e correto. Refiro-me aqui às culturas que variam de país para países, comunidades e grupos étnicos.
Vejamos:
Muita gente que, no corre-corre durante a invasão das águas, repetiram hoje, 28 de maio, dia do aniversário de um caro amigo de infância, Luiz Alexandre Cabral, as cenas angustiantes. Comerciantes transportando suas mercadorias para lugares seguros, carros de som fazendo terrorismo desnecessário nas ruas da cidade, barreiras deslizando e caindo. O que mudou? A data! Algumas pessoas, é certo, não estão mais aqui, para ver e viver este triste momento que amargura a gente das regiões envoltas a Cortês. Meu Pai, Carlos A. de A. Maranhão, quando dormiu aqui em casa, no quarto que fora do meu filho Herbert e que será do esperado Helder. Antes de deitar, jantamos às 22h30min na cozinha, e entre uma prosa e outra, guardei a frase do Meu Querido, meu Velho, meu Amigo, quando em um olhar meio desviado e contido me falou, do seu jeito, com a sua forma de falar:


Foi ou não foi uma lapada certeira? Meu Pai sempre me surpreendeu. Eu tenho tudo guardado aqui na minha mente. Depois que ele desencarnou em 2015, dois meses antes de o seu primeiro neto nascer, meu filho Herbert, eu pude saber quanto vale um Pai.

         Vendo aqui, hoje, todo esse corre-corre de gente, em meio às chuvas, eu me lembrei de tudo outra vez, quando sete anos antes, eu ainda tinha meu Pai perto de mim para comer na minha mesa e dormir na minha cama de solteiro, enrolado no meu cobertor de lã, verde, cor da esperança...

Fábio de Carvalho [Maranhão]
28/05/2017 - 21h19min - 21h37min - Domingo, Cortês-Pernambuco.

Escritório de Trabalho [Biblioteca Particular]


Foto: Eu, Fábio de Carvalho Maranhão e Carlos A. de A. Maranhão, meu Pai.

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PS.: CRÔNICA escrita domingo (28/05) e publicada na segunda-feira (29/05) devido a falta de sinal de internet por causa das chuvas aqui na região.

domingo, 21 de maio de 2017

O Poeta e a Filosofa em: A Filosofia do Desejo e do Prazer / Fábio de Carvalho Maranhão

XXIII

Crônica Meio-Conto [+16]

Tendo eu lido muito Filosofia, História e Literatura, temo a perpétua consolidação de algumas práticas que boa parte da humanidade acentua através das ações ditas, para muitos, normais. Não tenho interesse em rebuscar o objetivo principal dessa prosa nem tão pouco utilizar metáforas para dizer o que pretendo através de sentidos mais amplos. Ao que me refiro, creia que poucas pessoas no mundo pensam ou ao menos se preocupam. Tenho falado por aí sobre o dinheiro e a vergonha. O dinheiro no sentido da ganância da humanidade, e a vergonha do ponto de vista de renderem-se ao primeiro.

Outro dia, escrevendo um diálogo pervertido, percebi que os personagens ampliaram tanto os conceitos e acepções acerca do que e para que serve o dinheiro e a vergonha, que concluí, que da maneira que as coisas andam evoluídas, muito do que eles falaram faz sentido. Não houve bate-boca nem desentendimento, e sim, um diálogo amistoso entre um poeta apaixonado por álcool, noite e mulheres libertinas ao extremo e uma filosofa e escritora de contos adultos, versada sempre em Baudelaire e embasada em Henry Miller, cuja característica mais marcante, era sua forma de falar olhando nos olhos como se o poeta fosse um prato de comida fresca surgido na sua frente após três dias de jejum. Para ser mais direto, ela era apaixonada por sexo, não largava "As Flores do Mal" por nada, e nas horas vagas criava personagens para seus contos baseados nas suas observações dos comportamentos que observava no dia a dia. O poeta, discreto e direto, também lhe comia com os olhos e com as mãos quando chegava em casa, pois ao menos uma vez por semana, dialogavam sobre tudo, e entre um encontro e outro, regado a Wisk, Vinho e não raramente Vodka, muitas coisas eram escritas e registradas, já que havia um propósito central naquelas ocasiões: Além de ambos desejarem "comerem-se", pretendiam escrever cada qual um livro, onde o poeta escreveria de forma filosófica sobre o comportamento humano e a falta de identidade com questões morais e de conteúdo intelectual que assola grande parte da humanidade. A filosofa por sua vez, faria a mesma coisa, mas com uma composição pautada na análise poética, já que a filosofia nasceu, para dentre muitos objetivos, para compreender a poesia. Pois bem, um livro filosófico baseado em pontos de vista de um poeta e um livro poético fundamentado em análises de uma filosofa. 

Não tenho interesse de narrar aqui longos trechos dos diálogos dos dois representantes da luxúria intelectual e da intelectualidade na sua essência. Mas não posso deixar de descrever esta passagem, que para mim, nem o Dr. Zuan Açoeiro proferiria com tamanha exaltação aos prazeres da carne e do intelecto. 

Numa noite de sábado, quando o poeta Teodoro Clark e a filosofa Doroteia Norá se travaram com uma garrafa de Wisk em um lugar que não posso revelar. Não é que não posso, é que não devo, pois não me é permitido revelar esconderijos secretos que servem de refúgio para intelectuais a serviço da produção do conhecimento.

___ "A primeira dose é do santo", exclamou Teodoro quase derrubando a primeira porção cawboy retirada de um escocês 12 anos.

De pronto, Doroteia exclama:

___ Alto lá!

O silêncio reinou no esconderijo dos inteligentes.

___ O que há Doroteia?
___ Mostre-me um santo. Se me mostrar primeiro, poderá oferecer-lhe esta dose. Caso contrario, não vai desperdiçar esse líquido precioso com uma asneira dessas.
___ De fato, não terei como apresentar-lhe um santo. Neste caso, vamos dividi-la e imaginarmos que podemos pensar que deus somos nós...
___ A ideia é ótima. Ademais, não são todos os dias que temos em nossa frente um troféu desses. 

Doroteia, como sempre, já o mirava profundo nos olhos, como se a fome de uma eternidade lhe pousasse o desejo de saciar sua fome de uma existência em um momento breve...

___ O que tem nesses olhos, Doroteia?
___ Tudo e ao mesmo tempo, nada.
___ Eu posso escolher acreditar nas duas opções?
___ Poeta não precisa pedir.
___ E filosofa não precisa metaforizar discursos, pois sendo eu poeta, sei muito bem ler olhos, palavras e almas...
___ Grande filosofia a sua. Mas diga-me uma coisa, Teodoro: O que hoje é preferível para humanidade é o dinheiro ou a vergonha?
___ O dinheiro.
___ Justifica!
___ Quem tem dinheiro pode comprar até o silêncio das pessoas imorais. Não adianta você pensar que vergonha vale muita coisa hoje. Um exemplo muito bom é observar que basta uma pessoa rica cometer um ato absurdo que logo cai no esquecimento, pois se abrir o bolso, compra imprensa televisiva, jornais impressos, programas de rádio que promovem notícias e por aí vai. Uma pessoa desprovida do vil metal terá que conviver pela vida toda com algum deslize que cometer, mesmo que seja apenas no bairro ou na cidade em que reside.
___ Tua observação é coerente. Mas fale-me uma coisa: O desejo é para ser matado ou contido?
___ Matado, certamente. Mas qual tipo de desejo você se refere?
___ A todos! Especialmente o desejo carnal.
___ Este é o mais valioso, pois transforma, do corpo à alma. O paraíso na terra é um gozo bem dado. Um beijo sufocante. Um momento de êxtase olho à olho com uma pessoa que faz sua alma entrar na dela com apenas um olhar. Eu tenho refletido sobre essas questões, mas preciso colocar muitas coisas em prática ainda.
___ Você aguça minha imaginação com tantos detalhes, poeta!
___ E suas indagações, filosofa, fazem-me dizer coisas que antes não havia nem imaginado. 
___ É a bagagem que o amigo carrega. 
___ Bondade sua. A amiga é que carrega em si, a potência da filosofia, capaz de decifrar até o estado psicológico do poeta e virar pelo avesso uma poesia que se componha.
___ Eu apenas falo o que penso.
___ Por que não faz o que deseja também?
___ Como assim?
___ A teoria serve para muitas coisas, mas apenas a prática serve de complemento à vida. É preciso viver a vida, Doroteia. 
___ Certamente! Mesmo porque teoria não é ação.
___ Veja só, irei mais profundo em uma observação. Não se espante...
___ Eu? (risos)
___ É que vou aprofundar os exemplos.
___ Adoro situações profundas, Teodoro. Fique a vontade. Fale.
___ O que é o sexo, para você?
___ É a razão de nós estarmos aqui. Mas falo no seguinte sentido: Sem ter havido sexo, nós não estaríamos aqui neste momento dialogando.
___ Sim! Mas há algo de mais extravagante no sentido do prazer do que o sexo?
___ Claro que não!
___ Para muita gente, falar sobre sexo é o fim do mundo, mas para ler, assistir ou ouvir, são compulsivos. Na calada das noites, manhãs, tardes e madrugadas, imaginam "absurdos deliciosos" e desejam o "indesejável". São escravos de si! Sofredores eternos. Creia que se deve viver a vida, minha amiga, e o sexo, da forma que descrevi anteriormente, é o paraíso terrestre, o alimento da mente, do corpo e da alma...
___ Estar vendo porque falo que você aguça minha imaginação? Passa-me a garrafa, por favor, poeta.

Quando Teodoro lhe foi entregar a garrafa com a mão direita, Doroteia Norá lhe toma com a outra mão e puxando-lhe pelo colarinho, e mirando-lhe profundamente nos olhos, como se quisesse ler sua alma, filosofa com acentuadas metáforas:

___ Para que servirá a água em meio a um incêndio se não houver mãos para conduzir o líquido ao lugar adequado?

Teodoro, ao tentar falar, é surpreendido:

___ Cale a boca, que ainda não terminei. Olhe nos meus olhos e veja esse fogo em chamas! Ver? É o reflexo da tua alma em chamas. De que adiantará nossas bocas, nossas mãos, nossos corpos em um momento de fome, se não os utilizarmos para matar essa fome que inquieta nossa alma? Sabes para que serve uma boca, poeta? Para levar uma pessoa ao paraíso ou para o inferno. Depende do ponto de vista. Os olhos fazem a mesma coisa. Olhos e olhares são combustíveis do prazer, são a marcha primeira da ação, são dois elementos capazes de nos fazer enxergar o que o pensamento do outro deseja nesse momento.
___ Estais me deixando reflexivo.
___ Imaginando algo?
___ Sim!
___ Por que não faz o que imagina? Seria bom começar, senão vais ter o que merece. E olha que quando estou como estou eu não poupo minhas mãos. Gosto de usá-las para castigar quem merece...

O diálogo entre o poeta e a filosofa continuou com uma troca de olhares tão profunda, que perto do raiar do dia, não havia mais garrafa de Wisk nem anotações teóricas realizadas. Roupas pelo chão e suores derramados compuseram o cenário dos primeiros trinta minutos. Ninguém ouvia uivos da loba nem seus gemidos estridentes, capazes de acender uma fogueira a quilômetros. Naquela noite, a filosofia do desejo e do prazer reinou. O poeta foi tomado por um surto de prazer comandado por aquela que vertia só no olhar, a selvageria do prazer, capaz de fazer de um simples momento, um êxtase de eternidade. Esqueceram-se do diálogo inicial e fartaram-se entre ambos no esconderijo secreto, com um diálogo secreto, com a mais secreta forma de sentir o gosto da vida, que muitos negam ser através do sexo entre um homem e uma mulher...

Fábio de Carvalho [Maranhão]
21/05/2017 - 10h57min - 12h01min - Domingo, Cortês-Pernambuco.
Escritório de Trabalho [Biblioteca Particular]



Imagem com Edição de Arte. Acervo Arte Visual.

domingo, 14 de maio de 2017

Talvez Uma de Sentimento / Fábio de Carvalho Maranhão

XXII

Micro Crônica

Outro dia, conversando com o Fabrício, repreendi o amigo por não concordar com a vulnerabilidade em que ele levava adiante questões sentimentais. O sujeito sempre foi complicado por natureza. Bebia muito, fumava muito, estragava-se demais. Quase não dormia a noite, pois mesmo sem ser abastardo financeiramente, gostava e pousava na boemia. Para se ter uma ideia, só bebia Wisk e Vinho de primeiríssima qualidade. Não andava sujo. Tomava vários banhos por dia. O problema dele é que não largava o copo e seus tragos. Vendo e convivendo de certa maneira a situação, falei-lhe que era hora de arrumar sua vida e mudar alguns hábitos, pois do jeito que ia, terminaria envelopado o quanto antes. O cujo dito, sem eu esperar, saltou com quatro pedras nas mãos dizendo:

___ Meu pai e minha mãe já morreram! O resto é resto pra mim. Dane-se quem achar ruim!

Uma vez que sua resposta rimou, perguntei-lhe se era poeta rimador ou debulhador de mote glosado. Sem esperar novamente, levei um susto com a resposta que quase piso em falso no meio-fio da calçada.

___ Só faço rima pra cabra safado e intrometido.

Levei na esportiva e continuei a conversa com Fabrício, e percebi no seu semblante que tentava afogar algo na bebida. Era começo de noite, e em dias de sexta-feira, costumava pegar seu violão, sentar na curva da esquina do Bar de seu Bira e mandar umas de Núbia Lafayette, Nelson Gonçalves e especialmente Reginaldo Rossi. Ali a noite virava madrugada e o violão vadiava muito. Essas noitadas lhe renderam dinheiro, bebida, cigarro, charuto e mulheres. Não posso mentir que o danado era vistoso. O cabra era tão ousado que mandou colocar dois dentes de ouro na boca só para completar seu visual de boêmio. De fato era vaidoso.

Não vou me estender aqui com um texto recheado de frases e detalhes. O importante aqui é dizer que quem ver cara não ver coração. Principalmente de pessoas que às vezes carregam um semblante alegre e gostam da boemia. Lembro que antes de Fabrício sumir no meio do mundo, disse-me uma frase que ficou guardada até hoje como uma espécie de adágio ou ensinamento:

___ "Quem liga para o coração dos outros se as vezes se maltrata tanto o próprio?"

Ele, olhando para mim, produziu um brilho nos olhos tão intenso que me deixou triste. Foi à última vez que vi meu amigo boêmio com vida. Faleceu dez anos depois, com um livro de Kafka no colo e uma garrafa de café ainda quente na mesa, a xícara vazia e o violão afinado ao lado. Eu não sabia onde ele morava, pois sumiu sem dizer para onde ia. Doeu-me o fim de Fabrício. Era boa pessoa. Sofria muitas coisas calado. Falava pouco e lia muito. Bebeu muito também. Viveu muita coisa, especialmente quando saiu do interior de Pernambuco para ganhar a vida em cidade grande. Morou na rua, viveu de favor, comeu xingado. Mas o problema maior de Fabrício foi que ele amou demais, e ainda por cima, a mulher que ele amou não pode lhe seguir...

Fábio de Carvalho [Maranhão]
14/05/2017 - 19h15min - 19h49min - Domingo, Cortês-Pernambuco.

Escritório de Trabalho [Biblioteca Particular]

IMAGEM DE INTERNET


domingo, 7 de maio de 2017

Os Donos do Poder Convertidos na Canalha / Fábio de Carvalho Maranhão

XXI

Eu não bebi na fonte de Raymundo Faoro para me embasar teoricamente e compor este ensaio que não gostaria de ter escrito sob certo ponto de vista, mas quando li sua obra durante minha formação em Históriaconclui e permaneço convicto de que ela serve até hoje para compreendermos não só os desdobramentos da origem da burocracia brasileira, mas também da corrupção em tempos do Brasil Colonial. Por isso, realizando este exame, inicio dizendo que o cenário político brasileiro anda desgastado graças a Canalha, que varia de analfabéticos políticos, comerciantes de votos, atravessadores de partidos, propineiros e fabricadores de caixas dois, mídia fascista, eleitores interesseiros, e  como se não bastasse, toda gente omissa que se  neutraliza, cavando para si, sua sepultura no lugar mais quente do inferno. Costumo dizer, que esta ultima parte da canalha, nem pisando-lhe um dos pés, gritam ou pedem socorro. Mas geralmente, quem cala a boca diante de alguma situação de injustiça, certamente é avesso aos princípios "guevarianos", e sempre tem ao pé de si, a cartilha do “bê-a-bá” dos jogos de interesses. Geralmente, esse tipo de canalha, dispõe de independência financeira e emancipação pessoal, que, diga-se de passagem, são situações distintas. Não posso deixar de ascender a ideia que me pairou a mente para escrever alguns ensaios em outros tempos, tendo comigo, quase dois volumes prontos de composições em prosa versando sobre as filosofias morais que hoje, estão em extinção, como os animais, sacrificados pela ação do maior predador da terra

Digo, não de passagem, que a crise moral, hoje em dia, é tão alarmante, que não se ver outra coisa predominar na maioria das instituições que não seja o tráfico de influência, a prática de uso indevido das atribuições dos cargos que ocupam e o corporativismo pautado em princípios oligárquicos, conforme ocorre desde o Brasil Colonial, Monárquico e acentuado com a Velha República que fora mais Monarquia do que outra coisa. A Nova República, recheada de Golpes Políticos de Estado e Militares, tem nos dado o verdadeiro mau exemplo da canalhice geradora da crise política que desmoraliza desde as Cidades brasileiras até os Estados e, não por ventura, também a própria federação. Não se pode imaginar que o tripé mandatário do país, mudará os rumos das realidades sem que os discursos hipócritas percam seus efeitos e tenham validade prematura e irrestaurável. 

Não posso deixar de observar e tentar desconstruir os discursos hipócritas dessa casta que tenta se perpetuar no poder. Cada um possui uma arma, para tanto, nem todos sabem ou tem a coragem de fazer uso da força e habilidade que possui, não por medo ou falta de incentivo. O fato é que os jogos de interesses são tão visíveis desde as esferas locais até a esfera nacional, que algumas pessoas rasgam do próprio passado, as páginas que foram escritas com luta, dignidade, esforço e discurso pautado no exemplo. Outros não ligam para a imagem, e sem constrangimento, quando eleitos, perseguem eleitores, lideranças religiosas agem como verdadeiros fariseus, pois ao invés de enxergar antes da ação, a vontade do Deus que crer e defende, praticam crueldades que variam desde a ganância pelo dinheiro até a negação de um copo de água solicitada por um penitente que lhe bateu a porta rogando-lhe auxílio. Mas ainda há os que fecham suas portas para não acolherem os pertences e as pessoas vítimas das enchentes, os que desejam catástrofes ambientais para que as verbas a fundo perdido cheguem aos cofres públicos para darem "dia santo" e deitarem em cima de colchão feito com maços de garoupas

Mas tudo isso é apenas um ensaio. Existem situações, que não só justifica o desgoverno do Brasil em suas três esferas como também explicam por si só, atentados contra a Democracia, a violência que tem crescido assustadoramente e, além disso, a omissão de autoridades em face ao caos instalado principalmente, em cidades alvos de assaltos a empresas de  valores e caixas eletrônicos.

As vezes, tomando meu café, torrado e bem forte, eu me pergunto o porquê da canalha ser tão forte, cheia de raiva por dentro e maldosa ao ponto de esquecer que tudo algum dia, também será passado. Será que vale a pena discursar para pessoas que julgam inocentes, ignorantes, analfabetas, reproduzindo falas que não condizem com a realidade? A canalha, para ser mais direto, tem características distintas e metodologias de trabalhos diversas. Para descrevê-la, é preciso dizer que existe a canalha manipulada, a que serve de papel higiênico, para tentar limpar a sujeira da canalha mandatária, que instrui indiretamente a canalha manipulada para agir conforme os seus interesses. Mas a canalha manipulada não é totalmente "ralé", na maioria das situações, são pessoas esclarecidas, que pertenceram a outros grupos de políticos e religiosos, até viram a casaca para times que jamais torceram por pura e simples conveniência. Para a canalha manipulada, o que lhe importa é o dinheiro, o salto e a pose. Pousar em fotos, dar uma de celebridade humilde achando que todos acreditarão nos seus discursos infames e repletos de incoerência, pois na teoria, o verbo dar uma lição discursiva, como se houvesse em suas palavras, instruções discursivas de Bachelard ou até mesmo de Octávio Paz. Claro que existem outros nomes que poderiam ser citados aqui como Paul RicoeurHayden White e principalmente Michel Foucault  1*   2*, mas que geralmente, decoram frases de efeito, mas na prática, não sabem escrever um artigo de opinião para um boletim informativo aspirante a jornal de circulação regional.

Não bastando as ações desprezíveis da Canalha, outra coisa que ela pratica e que perturba muito a vida das pessoas, é quando o peso da influência e a falta de imparcialidade nas suas ações são sempre recorrentes. Para ser mais claro, lembro-me que, em dias de maio, a mão pesada de um Rei passageiro e de uns funcionários sem expressividade, espaço, capacidade intelectual e exemplo à posteridade, andou cortando cabeças de súditos por, historicamente, não terem afinidade com suas práticas de governo. Foram muitas as cabeças cortadas. Cabeças pensantes, produtivas e jovens do ponto de vista da canção popular. Não é de espantar que as facas são amoladas e cortem feito navalhas, sonhos e possibilidades, mas como disse o poeta pernambucano "Eu quis ficar aqui, mas não podia / O meu caminho a ti, não conduzia / Um rei mal coroado, não queria / O amor em seu reinado / Pois sabia,não ia ser amado...", e essa canção combinou tanto com a situação, que para mim, que tive também os ouvidos inflamados por discursos capazes de fazer vomitar e a cabeça quase decepada pela arma da assinatura, que viajei na filosofia para entender que a canalha tem validade, mesmo que só deixe de governar, pregar, erguer reinados e impérios quando seu Rei desencarnar. 

Mas para tudo existe uma saída. E a coisa que mais incomoda os quer são líderes e praticam corporativismo escancaradamente, é a liberdade dos que não comem na mesma mesa que eles nem mendigam as migalhas que caem dos seus pratos...

Fábio de Carvalho [Maranhão]

07/05/2017, 13h13min – 14h13min - domingo, Cortês-PE, Escritório de Trabalho [Biblioteca Particular]

- Foto: Fábio de Carvalho Maranhão - Acervo Pessoal/13/05/2016 -

sábado, 6 de maio de 2017

Comprovante de Residência com umas Doses de Belchior / Fábio de Carvalho Maranhão

XX

Crônica Especial

A expressão: "escrever uma crônica especial", não é que ela seja especial no sentido real da palavra. É que indispensavelmente, escrevo e publico uma crônica aos domingos, e a ideia de escrever esta crônica hoje, fora de fato inesperado, e em essência, despertado quando me deparei com um comprovante de residência que pertenceu a meu pai, quando em décadas passadas, havia concluído a casa que nos serviu de morada por muitos anos.

Um fato interessante foi o que eu jamais imaginei que um simples comprovante de residência pudesse me causar ao mesmo tempo uma "alegria tão grande" e ao mesmo tempo "uma sensação de indiferença" sem tamanho. Claro! O mundo não é só de rosas, são também dos Girassóis. Este último, eu costumo dizer que faz parte da minha trajetória de vida relacionada aos estudos e as imensas revoluções interiores  das quais tive que passar. Não me furto em deixar de cultivar um Girassol na minha biblioteca por um simples e talvez, mesmo sendo simples, um dos mais significantes símbolos para mim: Lembro-me das leituras sobre a Revolução Francesa. Mas a Revolução Francesa é apenas um exemplo em prosa que exprimo nesta "crônica especial". Clamo às revoluções individuais e coletivas. As revoluções dos que não se curvam aos interesses relativos à barganha, aos conchavos da desonestidade e acima de tudo, aos maus exemplos dos que imaginam que todos têm um preço, quando ainda existem àqueles que possuem e não abrem mão do seu valor, e isto se dar por um motivo imediato: Exemplo. Tal exemplo, refiro-me, aos que aprendemos desde a infância, quando nosso pai e mãe, tia ou tio, avó ou avô, ou até mesmo irmãs ou irmãos mais velhos que se tornam responsáveis pelos mais novos na ausência dos precedentes que acabei de citar. No meu caso, tenho o Exemplo plantado através das ações do meu Pai, que sempre foi meu espelho. Existem outros, mas para mim, este salvou a minha pele de tantos "abutres que estão soltos por aí", pois segundo meu pai, "a gente nunca deve se arrepender de ser honesto", e isso eu guardo e carrego comigo para vomitar na cara de qualquer salafrário, de qualquer pelego de órgãos ou instituições maquiados por discursos hipócritas e atolados em praticas de podridão moral.

Então eu fiquei aqui, só a imaginar como um comprovante de residência, grampeado em uma foto 3x4 e a cópia de uma habilitação, em nome de Carlos Alberto de Albuquerque Maranhão, avô de Herbert, completado dois anos e de Helder, previsto para nascer em menos de dois meses, pudesse me fazer conceber tantas reflexões. Refiro-me ao meu Pai, desencarnado em 02.02.2015.

Para a minha surpresa, neste mesmo dia, tive não sei se surpresa ou a profecia realizada, outra experiência com um comprovante de residência, mas este em nome da minha mãe, que por sinal, estava dentro de uma pasta com outros documentos meus, dispostos em ordem alfabética e classificados tanto por tipo quanto por finalidade. Quando peguei aquela conta de energia de valor R$40,40, percorreu em minha mente um mau presságio, como se alguma profecia me fosse declarada neste dia de maio, especificamente dia seis, um sábado do ano 2017. Para a minha “não surpresa”, chama-me pelo Messenger, um amigo, que por coincidência ou não, completara um ano que fazíamos de amizade no facebook. Como eu estava precisando entrar em casa, pois minha Biblioteca fica após a área de lazer da residência e o cheiro do café estava me atiçando, pedi-lhe que ligasse para conversarmos, para assim, me falar o motivo da ligação. Assim fez o amigo e, logo em seguida meu telefone tocou:

___ Satisfação, meu amigo!

A conversa fluiu como sempre flui. Falamos sobre outros assuntos como se o principal acontecimento devesse ficar para o fim da conversa, como em um conto, onde temos a apresentação, a complicação, o clímax e por fim, e esta é a parte a qual me refiro: "desfecho". Então a conversa enveredou para um caminho mais particular, e talvez, penso eu, metafórico:

___ O amigo soube da novidade?
___ Até o momento não. Conte-me.
___ É sobre o resultado de uma seleção pública, na qual pelo que constatei, o amigo com a bagagem e a experiência que tem, não alcançou pontuação. No mínimo, "fiquei sem entender, entendendo". Onde já se viu pontuação neutra?
___ Você quer dizer: "0,0"?
___ Sim. 
___ O amigo se refere a um processo seletivo tal...
___ Este mesmo.
___ Mas o fato é que não se pode querer fazer chover nem no inferno nem querer que aja fogo dentro das placas de gelo do Polo Norte. E como eu sempre procuro escrever como Belchior, "como faca para cortar a carne" de quem merecer, sempre será útil essas experiências, onde além da hipocrisia escancarada e a falta de dignidade da parte de quem acha que tudo é permitido é o exemplo que eles tem a oferecer, dar e até empurrar de goela a baixo.
___ Mas o que será que há nas entrelinhas, Maranhão?
___ Nas entrelinhas eu não sei, até posso analisar, mas com metáforas, eu creio que quem fala por si, caminha com as próprias pernas, emancipa sua própria liberdade, não se neutraliza, age conforme a consciência, não se curva nem faz continência, não admite humilhação, não é omisso, quando discorda não baixa a cabeça, não serve de chaleira nem de pelego, não vende o voto, não aplaude discursos de hipocrisia e escuta suas baboseiras com indiferença, dar risadas "sem sorrir" dos fanáticos e alienados das esquinas, praças públicas e de pé de palanque, para eles, é carta fora do baralho.
___ Compreendo perfeitamente o amigo.
___ Compreende porque ler e estuda.
___ Você agora me fez rir.
___ Mas falo assim para elogiar o amigo, já que o amigo é um leitor fluente. Mas retomando aos meus exemplos, eu quero dizer que as metáforas que usei não são de efeitos simbólicos ou com figuras de linguagem acentuadas de modo que meu português se transforme em alemão. 
___ Concordo.
___ Mas existe outro agravante.
___ Qual?
___ Eu não "estou" professor de História, amigo, eu "sou" professor de História, e ainda por cima, não me neutralizo, por isso não vou ter no inferno um lugar quente reservado para mim.
___ Pois é meu amigo, sei que  a perversidade é uma arma quente. Mas o que seria melhor para você nesse momento? 
___ No momento, será guardar a ideia da crônica que estou em mente. Quando terminarmos nossa prosa, creio que terei o que escrever.
___ Tudo isso por causa de um comprovante de residência, Maranhão?
___ Ora! Nada é por acaso.
___ Com certeza!
___ Mas como a Flor do Girassol representa equilíbrio, a integridade que por ventura queremos e devemos demonstrar aos outros através das ações - do Exemplo - , e para mim, a revolução de cada um em meio as adversidades, eu sempre agirei conforme meus princípios, sendo sempre o estudante da vida própria, afim de oferecer o Exemplo claro, reto, digno, caro e eterno, pois veja só meu amigo: "Nosso exemplo poderá ser sinônimo de eternidade. Isso dependerá de cada um".
___ Mas sinceramente, como é que uma Flor tão simples representa coisas tão importantes e belas?
___ Não busque respostas meu amigo, aja de acordo com a situação e principalmente, em casos como este, depure o que se pode criar em face da realidade alterada pelas mãos da injustiça e imagem do desrespeito ao direito, em outras palavras, a Democracia. Veja o Girassol: Ele não precisa que ninguém lhe diga de que lado nasce o sol, porque bate lá o seu coração... 
___ Adiante?

Fábio de Carvalho [Maranhão]
06/05/2017, 10h12min – 10h57min - sábado, Cortês-PE, Escritório de Trabalho [Biblioteca Particular]


terça-feira, 2 de maio de 2017

"Obrigado, Belchior!" / Fábio de Carvalho Maranhão

XIX

Crônica Especial

Belchior, grande artista brasileiro, representou e representa para mim um grande compositor antológico, onde a filosofia, a história, a literatura, a poesia, fazem-se presente em suas canções, me abrindo os olhos e a mente à boa música, à música com raízes poéticas afiadas como faca

A primeira vez que ouvi Belchior não foi através de uma interpretação sua. A canção foi "Apenas um rapaz latino americano" com um cantor que não me recordo o nome, mas de pronto, a pura poesia ficou na minha cabeça e no meu coração. Passado algum tempo, medo de avião veio ao meu encontro, e a partir dali, descobri este grandioso compositor, resistente e ativista da filosofia que adotara para a sua vida como anunciada em várias das suas canções, que de fato, foram prenúncios de muitas coisas que ele viveu em seus últimos dez anos.

Muitas vezes pensei que uma fotografia 3 x 4 não significasse algo além de um recurso para a devida conferência ou identificação em documentos oficiais, mas após ouvir e de tanto escreverem guardanapos em noites de Voz & Violão pedindo esta canção de Belchior, refleti que um dos valores de uma foto tão pequena é a lembrança que nos causa, gerando muitas vezes, saudades de um tempo que parece ter sido plantado no terreno da nossa mente e cultivado pelo próprio coração. Pois bem! Esses e outros tipos de sentimentos me foram despertados ao escutar e meditar nas letras das canções desse Cearense, da cidade de Sobral **

Falando na minha atuação como músico na noite, perdi a conta de quantas vezes iniciei uma apresentação com a canção Divina Comédia Humana, canção que sempre me reportou a uma obra de Dante Alighieri, A Divina Comédia  e a Era Parnasiana da Literatura, fazendo-me viajar nos seus versos como se o universo pesasse em meus ombros e, ao mesmo tempo, um sentimento de liberdade me tirasse todo peso e ao invés de braços, eu tivesse asas, prontas para içar o voo do imaginário libertário.

Pensando bem, eu vou mais longe: Sim! Belchior sempre compôs meu repertório de canções antídotos para os males da solidão, tristeza, inquietude, estranheza e desilusão. Muitas vezes eu me olhei ao espelho e me disse:

___ Escuta Belchior!

Parecia, constantemente, que eu estava "viajando" demais nas suas letras, e em meio às reflexões poéticas e filosóficas, passei a incorporar uma forma de sentir e enxergar a poética de modo transcendente, como uma espécie de radiografia interpretativa das suas letras perpetrasse a estética da arte da qual eu dispunha. 

Quantas vezes, percebendo em versos da Divina Comédia Humana a contagem regressiva da eternidade, corri para meu birô para escrever poesias mais para sentir do que para compreender. Ele, ao evocar Olavo Bilac, acendeu em mim, uma chama de busca não apenas pelo entendimento da história da literatura, mas para a busca incessante do que a poesia pode fazer e em que ela pode nos transformar. 

Angústias e desilusões evaporavam ou reacendiam escutando as canções "Belchioranas". É possível refletir sobre o amor e a paixão como se os dois fossem um só e ao mesmo tempo, distintos. Mas o que eu quero dizer é que Belchior nos convida a interpretar suas letras de modo filosófico, cujas interpretações surgem e penetram nossa alma graças a estética da arte que sua poesia nos provoca. Trata-se de uma estética onde os espíritos sensíveis como os poetas, artistas e pessoas comuns desligadas do interesse material são tomados e levados para outra dimensão psicológica. 

Talvez não tenha sido esta a intenção de Belchior ao escrever suas antológicas poesias. Ao que ficou claro, para ele, isso sempre foi natural. Edgar Allan Poe, Carlos Drummond de Andrade, Fernando Pessoa, João Cabral de Melo Neto não faltaram em suas composições permanentes. Às vezes eu falo para mim mesmo:

___ "Obrigado, Belchior, por ter me apresentado esses 'CARAS' "!!!

Mas será que Belchior morava mesmo na filosofia, fazia tudo de novo e dizia sim às paixões que lhes surgiam? Quando ouvi A Palo Seco, refleti sobre a importância de as vezes, convidar-se ao exílio próprio, em tempo necessário, se recompor para compor e recompor outras coisas em outras situações. 

Eu não quero que ninguém Saia do Meu Caminho nem que coisas importantes também saiam. Aprendi isto, quando ouvindo e refletindo, discordei de alguns pontos de vistas do grande cearense, embora tendo eu, concluído, que às vezes, é preciso sair do caminho de algumas pessoas, mesmo que seja por um tempo, pois como eu sempre falo, "É melhor um tempo perdido do que perder o tempo todo", e isso vale para convívios e situações. 

Não sei se quando se vive algo intenso, deseja-se Tudo Outra Vez, como na antológica canção, que narra à vida de tantas pessoas que foram em algum tempo "ilhas" e que perderam companheiros de estradas e de jornadas. Quem nunca não pediu uma carona ou não transou dentro de um carro? É difícil um sujeito não ter sua própria rede para dormir e se balançar tendo ao pé de si, um cão esperto e amigo, não ter se distanciado da vizinhança da sua infância e nunca ter tido uma desilusão amorosa. Essa canção fala disso e fala muito mais. Mas todos nós sempre somos estudantes. Talvez dos livros, mas, sempre da vida. E vejamos que o tempo passa e não volta. Cada qual com um sotaque, um vício de linguagem e os costumes de uma vida talvez simples, mas sempre dispostos a viver coisas novas. "Querer repetir tudo outra vez, talvez seja não querer viver coisas novas". Mas é só talvez, concluí.

Mas tomando emprestado um verso desta que para mim é uma grandiosa poesia, declaro que às vezes, morar na filosofia é cruel, pois quando pensamos e idealizamos, estamos no campo da teoria, e como o próprio declara que não estar interessado em teorias ou em nenhuma fantasia, Alucinação, para mim, como um tipo de paradoxo, falo dela uma filosofia, não porque o compositor assume tal intenção, mas por concordar com os versos de proposição coerente, pois a vida é muito mais do que se pensa.

As vezes me dar pressa de viver, como declarou em Coração Selvagem, mas saindo do campo da alucinação passageira, confirmo minha pressa e urgência, pois se "meu coração(...), como disse Belchior, é como um vidro e um beijo de novela", vejo nesses versos que a brevidade pode vir nos encontrar. Foi pensando nisso que resolvi organizar o que já escrevi até hoje, e publicar, sem que exista diante disso, o espírito da ganância capitalista. Preciso viver para registrar meu legado através também, do que escrevo, componho...

Talvez em tempos presentes, nós não nos sintamos tão angustiados como um goleiro na hora do gol nem precisemos ir a um analista de vez em quando, mas é importante que se saiba que o amor é SIM uma coisa mais profunda que um encontro e uma transa sensual. Mas mesmo assim, é preciso morar na filosofia, buscar alucinações possíveis e reais, acreditar que se pode deixar de ter Medo de Avião e que segurar uma mão te pode fazer se apaixonar até o infinito, mesmo levando consigo a lição da Divina Comédia Humana

Eu me responsabilizo declarando que faço questão de dizer aos meus filhos, que mesmo eles não vivendo como os seus pais, saberão de muitas coisas que aprendi com os discos de Belchior, pois além de tudo, Belchior não foi apenas, ele continua sendo, talvez, não como seus pais foram, mas com certeza, como ele quis e realizou nos discos e nas jornadas, pois como ele próprio falou: "Viver é melhor que sonhar" mesmo que o sinal esteja fechado...

Mas como estamos aqui para viver, que cada um viva de modo que seja possível sentir-se vivo. Construindo, registrando, realizando, sentido dores e sorrindo, sempre buscando sermos as mesmas pessoas, mas com visões diferentes, com ações diferentes, com propósitos diferentes, reconhecendo que é importante "amar o passado", mas pronto para enxergar que "o novo sempre vem".

É por isso que meu Amigo Zé Linaldo, grande artista Palmarense, compôs a canção "Só Você Não Muda": "Agora eu entendo Belchior / Agora eu entendo esses caras / Agora eu entendo porque somem / Por que mudam, porque param / Mas eles são as mesmas pessoas / Amam, choram, riem, sobrevivem / Rogo que estejam bem / Talvez estejam bem melhor...

Concordo com esse grandioso amigo quando diz que "Eu sei que é preciso mudar", mas certamente, preciso saber parar quando for preciso, pois "Eu sei quando é preciso"...


É impossível não dizer: "Depois de Belchior, eu não fui mais a mesma pessoa..." e de vez em quando olhar para o céu ou fechar os olhos e dizer: "Obrigado, Belchior!".



Fábio de Carvalho [Maranhão]
02/05/2017, 18h40min – 19h30min - terça-feira, Cortês-PE, Escritório de Trabalho [Biblioteca Particular]