A primeira vez que ouvi falar
em São Jorge eu ainda estava na barriga da minha mãe. Mas o que eu ouvi naquela
quarta-feira do ano de 1983, já perto do meu nascimento, foram coisas do tipo:
"Olha para a lua que você verá São Jorge lá". Não dei muita importância,
primeiro, porque não havia como dar importância a uma conversa daquela, que
para mim, mais parecia sem pé nem cabeça. Imaginava eu de dentro da
barriga:
___ Olhar para a lua e ver um
Santo? De onde tiraram isso?
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Mas a conversa sempre fluía e
São Jorge guerreiro estava nas orações da minha tia e do meu tio, e nesse meio
tempo, quando eu já havia completado meus cinco anos, encontrei dentro da
Bíblia da minha Tia-Avó e Madrinha, um santinho com aquela que chamo de
principal oração de São Jorge. Não vou citá-la aqui, pois tomaria muito tempo.
Ademais, quando fazemos isto em uma prosa, às vezes enfadamos o nosso leitor,
dizia-me um antigo poeta vindo da Alemanha nos fins dos anos 90 do século
passado. Aquele santinho me despertou tanta curiosidade, que o enfiei no bolso
direito do meu calçãozinho azul, e de lá da casa da minha tia, pistei para a
casa dos meus pais. Eu não estava só. Uma senhora que trabalhou lá na casa que
me revelara São Jorge, levou-me. Cheguei ansioso com o santinho no bolso, e de
pronto, entrei no meu quarto. Um fato muito interessante para mim, é que, com
aquela idade, cinco anos apenas, eu já sabia ler. Agradeço às minhas
professoras, pois sem elas talvez eu não tivesse realizado essa habilidade tão
precocemente. Dione, Telma e Dona Bezinha Campos foram às anfitriãs deste
grande feito.
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Pois bem, como eu estava
falando, entrei em meu quarto e deitado de "papo" para baixo, comecei
a ler aquela magnífica oração. Após cada verso eu imaginava mil coisas. Se na
época eu conhecesse Shakespeare,
eu seria capaz de apostar que essa oração era da sua autoria. Jorge da
Capadócia me despertou fé e confiança a partir da sua história e dos versos da
sua oração.
Anos mais tarde, creio que no
início do século XXI, mais ou menos ano 2001, conheci de maneira mais
aprofundada a história das religiões, e prestes a entrar no curso de História,
sentia-me na obrigação de ler sobre temas que na maioria das vezes, as pessoas
acham polêmicos. Iniciei uma pesquisa sobre as religiões de Matriz Africana e
com elementos delas, nascidas no Brasil, como é o caso da Umbanda. Deparei-me
com um mundo de descobertas tão fantástico, um sincretismo real e um campo de
paz tão harmonioso, que a partir daquele tempo, agarei-me em sincronia com as
religiões que, porventura, pudessem dialogar com estas, que diariamente são
perseguidas e discriminadas.
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Conheci Ogum, o Orixá da
guerra, da demanda e da luta. Essas três características me serviram de
inspiração para que, através da reflexão de cada uma, eu pudesse trilhar a
minha vida, guerreando com as dificuldades, e porque não dizer, lutando contra
as demandas negativas que por vezes, a vida nos coloca no meio do caminho. Descobri, contudo, que São Jorge era (e é) Ogum. Essa
descoberta me aproximou tanto da Umbanda e do Candomblé, que busquei e busco a
cada dia, compreender e ritualizar afazeres e obrigações relacionadas a crença
ritualística dessas religiões tão bonitas e importantes para o ceio cultural da
espiritualidade humana.
Hoje, tantos anos se passaram,
e eu contando quase 34 anos de idade, pratico minha fé de forma livre,
consciente e respeitosa. Abrange-me muitos elementos de várias crenças, e me
sinto feliz por isso. Muitas orações, muita fé e muitas histórias me competem
contar e vivenciar. Hoje é dia de São Jorge, mas todos os dias ele nos
acompanha. Viva Pai Ogum!
Salve Jorge da Capadócia!
"A minha história eu não
deixo que contem. Eu não apenas vivo quanto faço jus a minha existência",
Fábio de Carvalho [Maranhão]
23/04/2017, 12h46min – 13h13min - Domingo, Cortês-PE,
Escritório de Trabalho [Biblioteca Particular]
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