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domingo, 5 de março de 2017

Papa Francisco Tem Toda Razão / Fábio de Carvalho [MARANHÃO]


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Muita gente que por um motivo ou outro deixa para sair do armário quando chega o carnaval. Até me lembro daquela música de Chico  e mesmo assim, concluo que a maioria desse pessoal sequer cantaria um trecho de qualquer letra do acervo Buarqueano. Às vezes, essa gente não tem culpa, pois quando vão analisar o próprio histórico cultural, não encontra na sua árvore genealógica alguém que se tornou amante de uma boa MPB, Bossa Nova, nenhum estilo de música que diga "Benza-te Deus!", e ainda assim, existem os ateus e agnósticos, que merecem todo respeito, que não usariam essa máxima. Muitos agradecem e evocam o acaso, e diante disso confesso: O Papa Francisco tem toda razão ao fazer reflexões acerca da obrigação de todos serem o que é, e não se esconder por trás das cortinas, de discursos infames e de práticas que mancham famílias, segmentos, instituições...

Esses dias, quando na quinta-feira após a quarta-feira Santa, após o Carnaval, eu pude observar uma cena que, tendo eu observado alguns comportamentos de natureza quase que hedionda por parte de alguns foliões, denuncia a hipocrisia já denunciada por mim em outro escrito. 

Os fatos ocorreram na cidade é Cortês, que fica no Estado de Pernambuco, Nordeste brasileiro. Quando chega essa época festiva, muita gente aproveita para "tirar o atraso", e esquecendo-se da imagem própria que se faz necessário zelar, pois "o exemplo é uma arma que pode transformar-se em bumerangue ofensivo", enchem a cara para ofender o "amigo" que antes era amigo, para dar em cima da esposa alheia, para passar a mão nas pernas das jovens foliãs dentro dos blocos e troças, para ofender com palavrões de toda a espécie candidatos eleitos e não eleitos por não ser da sua laia, até para dar uma de besta e, bêbado, sair sem pagar a conta coma desculpa de "vou aqui no banheiro público"... 

Eu estava do lado de um grupo de pessoas quando ouvi o tal fulano perguntar:
___ Para onde foi aquele crápula?
___ Foi ao banheiro público.
___ E só da vontade de ir na hora de pagar a conta é?
...

Esse é apenas um dos esdrúxulos exemplos da canalhice que se pode ver nessa época de carnaval.  
___ Mas meu amigo, essas coisas só se passa no carnaval é?
___ Não, não! Mas essa época deixa as pessoas mais encorajadas para fazer o que não presta e estar no gênio delas. A desculpa depois será colocada na bebida, e logo, estará tudo certo...

Outro momento intrigante foi quando vi um tal sujeito, amigo de Deus e do Diabo, cercando uma sujeita que ia com uma bolsa em uma das mãos, sua filha pegada na outra e ao lado, uma amiga, contando uns 18 anos, quase cor de leite e cabelos lisos e negros. Mais parecia uma modelo holandesa, mas sem os cabelos loiros. Fiquei observando a situação por não ter outra escolha, pois eu esperava o transito acalmar para atravessar a rua, então não pude evitar ver o assédio quando aquele homem caridoso ofereceu-lhes uma carona até em casa. Não me causou espanto tal situação. Uma é casada, a outra estar quase noiva. Conclui que o bom rapaz ficou com dó da criança, já que iriam andar uns vinte minutos até chegarem em casa. 

___ O que pensar de um rapaz desses? E no pensamento a voz de Coxinha soando em tom sarcástico: "___É ou não é, amizade?"
No mesmo tom, como se fosse um Doquinha, o amigo respondeu com tranquilidade, mas sem aprovar a ação estratégica do tal sujeito caridoso: "___É siiiiiimmmm!!!"

Mas para minha maior surpresa, mesmo observando tantos comportamentos sem aprovação da minha parte, um me chamou uma atenção sem limites. Trata-se de um sujeito de uma família de gente de bem, mas como já falei no início, "o carnaval também é um profeta, pois revela muitascoisa"

Três fatos ocorreram com esse amigo dos outros. O primeiro foi durante a apresentação de um Bloco local, cujo mesmo já sai ha alguns anos, e sem perceber que muitos observavam o que ele gritava ao  passar em frente a uma residência de um político derrotado nas eleições passadas, já cheio de todo tipo de cachaça, gritava palavrões com tanta ira, que até pensei que a veia do seu pescoço e da sua testa iria romper. Mas graças a Deus, aos Deuses de cada um estiver lendo esta crônica e ao Acaso, não presenciei o pior. O negócio foi tão sério que eu não pretendo escrever as palavras de maldição que o tal sujeito pronunciou, mas com certeza, vontade não me falta.

O segundo fato observado por mim foi muito rápido. Esse ocorreu na quarta-feira de Cinzas, dia Santo para Cristãos. Do portão da minha casa, constatei o chamador de palavrões e rogador de pragas vindo em direção a minha residência, caminhando como se fosse um santo, bem vestido, e dessa vez, não vinha como no Carnaval, com uma diadema diabólica na cabeça e o tridente do satanás em uma das mãos, pois a outra segurava a cachaça. Não carregava Bíblia, dessa vez, nem estava vestido de branco, como  anjos celestiais são desenhados, mas vinha com uma marca de cinzas bem no meio da testa. Tão satisfeito ele caminhava, com um ar de pureza espiritual sem fim, que eu quase acreditei que era a imagem do Santo Padre João Paulo II e quase corria para me ajoelhar aos seus pés para lhe pedir sua bênção.

___ É de arrepiar uma história dessas, amizade!
___ É nada, de arrepiar é o que eu vou contar agora.

Na quinta-feira, o terceiro fato se desenhou de uma forma que eu quase não constatei. Por volta de cinco e dez da manhã, quando atravessei a Rua Celso Borba e dobrei mesmo na encruzilhada com a Rua Arthur Siqueira para pegar o transporte para garantir minha chegada ao trabalho, quase me encobrindo, pois eu estava quase pisando no chão do antigo Hospital Elvira Valença Borba, olhei para trás, e vi uma multidão seguindo ainda pela Rua Arthur Siqueira.

___ E essa gente, quem era?
___ Era a procissão da quaresma. Todos os anos as Santas Peregrinações acontecem. Quando escuto, vejo ou participo de alguma, a lembrança da minha tia-madrinha e avó Irene Carvalho ascende feito o sol do meio dia em tempos de verão. Mas deixe eu lhe contar. Imagina quem estava na frente da procissão?
___ Claro que era o Padre!
___ Eu falo depois do padre, parecendo um Santo, segurando uma espécie de galho verde, como é típico seu uso nas procissões da Quaresma. 
___ Era ele mesmo?
___ Hora se era. Era ele, bem vestido, olhar manso, cantarolando um antigo do tempo da minha Tia Irene. Tão penalizado, ele caminhava, que mais parecia um penitente...
___ Esse amizade não presta!
___ Eu? Mas é a verdade. Esse pessoal não mede as consequências do que fazem. Levam muito a sério um Carnaval, misturando as coisas e achando que ódio leva alguém ao progresso pessoal e principalmente que vai chegar a lugar algum.
___ Concordo. 
___ Mas me fala uma coisa amizade: Isso não é olhar a vida dos outros não? Pois veja mesmo, você viu muita coisa da mesma pessoa. 
___ Em primeiro lugar, eu não saio com esse intuito. Em segundo, a minha visão aguça muito meu mecanismo literário. E pra te ser sincero, eu até me sinto bem ampliando meu olhar sobre as coisas. O que seria da humanidade sem a literatura, essa fonte tão fecunda de tudo e para todos?...
___ Compreendo.
___ É por isso que eu tenho dito: Papa Francisco tem toda razão quando fala que "É melhor ser ateu do que católico hipócrita".
___ Um grande puxão de orelhas nos católicos, hein amizade?
___ Só nos católicos? 
___ E não?
___ A hipocrisia anda reinando meu amigo. Ele é o Pastor dos Católicos, mas o recado foi para a humanidade. Copiou?
___ Copiei.
___ Mas não é para decorar, é para refletir.
___ Imagine o meu...


Fábio de Carvalho [Maranhão]
05/03/2017,17h31min - 18h33min- Domingo, Cortês-PE, Escritório de Trabalho [Biblioteca Particular].

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