Sr.
Ferreira, Profeta e Filósofo: ensaio sobre os covardes / Fábio de Carvalho
Maranhão
VII
Alguns fatos são impressionantemente
desastrosos do ponto de vista da covardia, da fraqueza, do egocentrismo e
da dupla personalidade. Esses dias estive pensando sobre isto e tirei algumas
conclusões, mas eu jamais teria pensado nisso, se no início do século XXI eu
não tivesse conhecido um sujeito ainda moço, com reduzido muito vigor
nos olhos, pois desde sempre demonstrou um ar de mandrião. Sua
disposição sempre foi, dentre algumas, para tomar cachaça e largar
brincadeiras inoportunas sem hora e escolha de pessoa. Não lembro até a
data de hoje ter conhecido um sujeito assim. Mas para falar dos fatos
impressionantemente desastrosos dos pontos de vistas supramencionados, narrarei
por alto a história das histórias de João Malandro, incluídas nos
meus diálogos um amigo caro. Creio que é de suma importância, pois passados
quase vinte anos, ainda encontro gente da mesma índole do tal sujeito, e que
ainda por cima, jura de pés juntos que gosta de trabalhar e que pensa no outro,
sendo altruísta por natureza, e de resto, bom colega.
Certa vez, em conversa com o senhor
Ferreira, bem no meio da ponte principal da Praia de Suape-PE, gravei
bem uma máxima citada por ele, e confesso que só depois de algum tempo eu
compreendi de maneira mais natural e receptiva, pois para os meus ouvidos,
aquilo soava como uma nota musical com acordes impróprios, e para minha alma,
como um pecado irreparável...
___ Estais vendo aqueles ali, Alberto?
___ Estou seu Ferreira! O que eles tem?
___ Não arrisca?
___ De certo!
___ Mande.
___ Amizade.
___ Certamente. Quer saber de uma
coisa? Conheço todos desde moços, e pela experiência que tenho, basta um
vendaval para seus chapéus caírem e cada um correr atrás apenas do seu...
Eu fiquei pensativo após
ouvir tais palavras, e emendei com uma breve interrogação e um leve
oscilar de ombros:
___ E?...
___ O que eu quero dizer é que quando o
problema ou a solução finda com a satisfação pessoal, o outro que se foda, cada
um que se vire, porque pior do que uma queda é um coice na
sucessiva, por isso, o bom mesmo, é sempre ficar na retaguarda e
sempre vê se há ou não pedra no próprio sapato.
Passados muitos anos, com um
acervo de muitas experiências, eu tenho comprovado isso através de
muitos fatos constrangedores gerados por pessoas que pensando que o outro
é desprovido de intelecto ou simples vontade de pensar, não analisa e conclui
suas dissimuladas ações mal planejadas e antônima ao altruísmo.
Outro dia, o senhor
Ferreira lembrou-me essa conversa, e para ser sincero, o velho, pois
hoje posso chamá-lo assim, mas com respeito, tinha e tem toda
razão. Entre um café e uma poesia, ele me fazia uma pergunta e
as interrogações ficavam no ar, porém, debatíamos bastante sobre suas
filosofias cheias de coerência e realismo entre uma música com violão e uma boa
cantoria.
___ Quantos dos seus amigos deixariam ou
deixaram de lado o que possivelmente lhes é ou seria cômodo para estar ao seu
lado em um momento de exposição e de enfrentamento?
Pensei um pouco. Fitei os olhos do
indagador sereno e experiente. Franzi a testa. Conclui: ___ Até agora, nenhum.
___ Já travastes algum embate
que não apenas viesse a culminar só na sua vitória ou derrota, mas na derrota
ou vitória dos teus pares, e na hora de levantar a espada, a lança, subir a
cavalaria, empunhar o escudo, ninguém o acompanhasse, com a desculpa de que não
há o que fazer, pois a batalha seria em vão, ou por covardia, ou por não querer
se comprometer com a luta coletiva e certamente dolorosa e dura, fato este
que geraria uma série de intempéries, tropeços e árduas caminhadas?
___ Sim. Algumas de curta e outras
de longa duração.
___ E existiu ou existiram àqueles
que, dissimulados, tentaram simular ou simularam, estar na batalha, mas ao
mesmo tempo falando a língua do inimigo, assinando acordos de boca ou de papel,
aceitando o peso mais leve, quando na verdade, deveria seguir dividindo o peso
e lutando na batalha com as mesmas armas e com os mesmos objetivos?
___ Sim. Muitos surdos, outros mudos,
outros coxos por opção.
___ Não vês? Quantos chapéus caíram? Mas
certamente, muitos possuem outros chapéus para substituir o chapéu perdido, e
ainda há aqueles, que não se incomodam com o sol ou não possuem calvície. E se
há quem tente recuperar o tal chapéu de mexicano, que garante sombra para
todos, para que então se queimar ao sol e na batalha? Compreendes? Essa é a
reflexão.
O senhor Ferreira me falou tais palavras e
tantas outras com um ar de profeta e filósofo me fazendo crê naquilo que o peso
dos anos, mesmo tendo ainda meia idade, me ensinaram. Logo
pude concluir também, que quando Papai me falava "Primeiro eu, segundo eu, terceiro eu, décimo
terceiro os outros", ele traduzia perfeitamente e de maneira mais simples, as mesmas
palavras do velho Ferreira. Papai estudou até a quarta série, um
ano a mais do que o senhor Ferreira. Citamos isto depois da terceira xícara de
café, no Café Donuts, no North Shopping Caruaru-PE. Nesse dia, entre o trágico
e o cômico conversamos em tom de comédia para a vida não perder a graça...
___ Alberto!
___ Fale, seu Ferreira.
___ Faz feito disse teu Pai. Eu só mudo o
pronome: "Primeiro tú, segundo tú, terceiro
tú, décimo terceiro os outros".
___ A partir de amanhã será assim, seu
Ferreira.
___ Será, Alberto?
___ Me conhecendo como o senhor me
conhece, lhe resta alguma dúvida?
___ Nenhuma!
(...)
___ Sei Ferreira.
___ Fala, Alberto.
___ E aqueles amigos que o senhor me
mostrou há alguns anos na ponte da Praia de Suape, que fim levaram?
___ Fizeram um bolão na Mega-Sena, e
o mais calado sumiu com o bilhete premiado. Os outros três quase enlouqueceram
de raiva e quase saia morte...
___ "!!!"
(...)
___ Outro café, por favor!
___ Dois...
Fábio de Carvalho [Maranhão]
12/02/2017,19h30 - 20h47min- Domingo,
Cortês-PE, Escritório de Trabalho [Biblioteca Particular].
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