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domingo, 8 de janeiro de 2017

As Coisas Simples às Vezes São Assim / Fábio de Carvalho Maranhão

II

Não pretendo aqui pregar um saudosismo irreal ou desenhar um modesto perfil de quem gosta de recordar as coisas. Nem sempre sou assim. Mas olhando esses dias umas fotografias da velha casa, que hoje resido, porém modificada neste nosso presente, vi nos detalhes de alguns móveis, que eles não traduzem aquilo que enxergamos à primeira vista, pois para mim, que os vi, todos, em épocas remotas a esta, sendo usados por quase todas aquelas pessoas das fotografias, que em sua maioria já se foram, eles são de todo, fragmentos de histórias que marcaram a minha infância e adolescência. Mas por falar nisso, os móveis me fizeram lembrar algo que sempre tive vontade de escrever: a tal da obsolescência programada que as coisas de hoje carregam. Com os móveis não é diferente. Talvez esta palavra "obsolescência" não seja a palavra mais adequada àquilo que desejo dizer, mas basta adaptar seu sentido que ficará clara a minha crítica. Vejamos: quando morei com a minha tia-madrinha-avó Irene Teixeira de Carvalho, mais conhecida como Irene do Cartório, até meus quase dezoito anos, tive o prazer de vê nos tipos dos móveis, a qualidade e o retrato de outro tempo. Não faço crítica nem quero matar a paulada o gosto de quem tem tara por móveis MDF, pois sei que gosto é uma questão pessoal e que vai além  disso, e concluo dizendo que nesse meio existem duas coisas que é muito presente no mundo pós-moderno: o consumo e a vaidade, e isso gera um aumento desregrado do consumo desses móveis que não aguentam uma pingueira em atividade por meia hora. Mas ainda assim precisamos falar mais sobre ambientes sustentáveis e o reaproveitamento de coisas que mantenham o mundo da reciclagem ativo, e por isso, a Mãe Natureza através de Oxossi, o Orixá das Matas (Salve!) agradece, o que respeitosamente em um sincretismo religioso, é representado pelo nosso São Sebastião. Pois bem, a Avenida São Francisco me faz recordar muito bem esses detalhes, e eu acabo pensando como pessoas dão tanto valor as coisas que não tem durabilidade e qualidade. É preciso pensar bem sobre o que de bom as coisas nos oferecem. Penso as vezes que momentos meus vividos em outras encarnações são reacendidos quando, sem querer, vejo, todo ou até mesmo lembro daquele guarda-roupa, velho mas muito bem conservado, aquela forte cômoda, a mesa da cozinha e a mesinha que minha saudosa Tia rezava à Nossa Senhora. São essas coisas que me fazem dizer que os móveis me dizem mais do que o que a visão capta. 
Lembro-me que certa vez, ao tentar fechar uma gaveta da cômoda do ultimo quarto, que antes era dispensa, machuquei o dedo ao ponto da unha do dedão ficar rocha. Soltei um palavrão que depois me doeu a alma, pois como nunca chamei um nome daqueles na frente da minha Tia, a consciência me pesou. Não me pesou a consciência pelo fato de Tia Irene ter escutado, pois ela não escutou, foi porque me lembrei de Tio Valdo (Julivaldo, originalmente), que quando se aperreava chamava tantos palavrões, que quando o repertório acabava, ele inventava nomes que nem eu sabia o que era. Foi-se para o Juazeiro e não voltou mais. Jurou que morreria por lá mesmo e que no dizer dele "Nunca mais volto aqui para votar em ninguém nesta cidade". Cortês havia acabado para meu Tio. 
Mas voltando ao assunto dos móveis antigos, que são para mim, de uma simplicidade enorme, tornam-se tão grandiosos pelo fato de me dizerem e me fazerem sentir coisas que eu jamais imaginaria que sentiria e lembraria...
O sofá da primeira sala, por sua vez, não me deixa esquecer Tia Irene, Tio Valdo, Tio Róga, Tio Toinho, Dona Odete, Dona Maria da Água...
E a Frente, os Janelões e a Porta da Casa original?! Sobre esses eu nem quero falar...
Meu Deus! E eu que pensava que os móveis não falavam. Mas é isto mesmo! As coisas simples às vezes são assim...

Fábio de Carvalho [Maranhão]

08/01/2017, 16h51min Domingo, Cortês-PE - Sala da Minha Residência.


Fotografia : Acervo Pessoal: (Nossa Casa)
Érica , Irene Cavalho e Fábio de Carvalho


Fotografia : Acervo Pessoal.
Irene Cavalho e Fábio de Carvalho

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